A galinha



   Naquela noite a menina de pijama estava muito feliz, pois aquele dia foi especial: na escolinha houve uma festa de aniversário com o tema dos bombeiros e um bombeiro de verdade foi até lá conversar com as crianças. Ela aprendeu sobre os perigos do fogo, de subir sozinha em lugares altos e que os bombeiros são pessoas que treinam muito para fazer resgates e nos deixar a salvo e seguros.

   Também foi especial pois já a alguns dias ela não podia brincar com sua boneca, ela fora desobediente e ficou sem poder brincar com ela, mas já passou.

   Estavam as duas deitadas na caminha, menina e boneca, bem confortáveis, cobertas com o cobertor mais fofinho, lembrando das lições dos bombeiros, quando ouviram um "cócócócócó". Elas seguiram o som para descobrir de onde vinha o cacarejo, afinal, não viam nenhuma galinha.

   Chegaram a um lindo castelinho, todo amarelo com telhas em formato de penas e janelinhas redondas como ovos. Da janela elas viram uma galinha e um galo, ele com uma linda capa e uma coroa de rei e a ela com um capacete e casaco de bombeira. Eles estavam conversando:

   - Cócó cóóóóó cócó!

   - Có! Có, có?

   Mas o engraçado é que entendiam tudo, e a conversa ia assim:

   - Hoje vai ser a grande festa do batalhão de bombeiros! Irei cedo, pois preciso ajudar meus colegas!

   - É mesmo, querida irmã! Eu levarei todos do castelo comigo, combinado?

   A menina e a boneca viram a galinha bombeira sair do castelo toda saltitante, e a seguiram, pois uma festa sempre é mais divertida que um castelo.

   Chegando lá elas viram a galinha bombeira parar em frente a um enorme bolo, com muitas velas em cima, balões coloridos presos ao redor da mesa e muitos animais bombeiros arrumando a festa.

   A boneca ficou agitada, e puxava a mão da menina para irem até lá, mas a menina disse para ela que não entramos em festas sem sermos convidadas. É falta de educação. Mas a boneca se soltou da mão da menina e correu para perto do bolo.

   Consternada com a desobediência da boneca, a menina foi chegando perto de onde estava o bolo e foi pedindo desculpas aos animais bombeiros pois sua boneca entrara sem pedir licença e parecia uma doidinha correndo por todo canto tentando ver tudo. A Bombeira Raposinha era a chefe dos bombeiros e foi até ela. Disse à menina para não se preocupar, pois a festa era para toda a cidade, mas que segurasse a mão da boneca firme, pois os carros de bombeiro iriam passar por alí e podia ser perigoso para uma bonequinha distraída.

   No meio de toda aquela arrumação, a galinha bombeira estava encantada com todas as velas do bolo. Ela pediu aos colegas para acender as velas mas, por não alcançar o topo, pediram para ela distribuir os livretos de segurança dos bombeiros, pois ela ainda não tinha treinamento para acender as velas. Ora, ela imaginava que, por ser bombeira, não iria se machucar. Então pensou consigo mesma:

   - Vou puxar uma cadeira, subir segurando os fósforos e acender as velas. Que dificuldade há nisso?

   Quando estava na pontinha dos pés, acendendo apenas a segunda velinha, o fogo tocou em um balão. Ele explodiu assustando a galinha que deu um pulo, soltou o fósforo e ele caiu bem nas peninhas de sua cauda. Ela sentiu o cheiro da fumaça e viu o fogo no bumbum e se desesperou, correndo e gritando:

   - FOGO!! FOGO!! CHAMEM OS BOMBEIROS!!

   Ela se assustou tanto que saiu do batalhão. Seus colegas viram aquilo e rapidamente entenderam o perigo que a galinha corria. A Bombeira Raposinha ordenou:

   - Borboletinha bombeira, voe até o caminhão, você dirige. Bombeiro Urso, venha comigo! Vamos apagar um incêndio galinácio! Bombeira tartaruga, você fica aqui e cuida para que todos se acalmem e não haja mais acidentes! Vamos!

   Por sorte, a bonequinha passou naquele instante bem perto delas e a Bombeira Raposinha, muito ágil, enquanto corria para o caminhão segurou a bonequinha e deu no colo da menina, que agradeceu e a segurou firme. A menina de pijamas ficou muito assustada com o acidente da galinha e abraçou forte sua amiga de pano, imaginando que horror se ela também tivesse se machucado com a correria que aconteceu.

   A essa altura a galinha notou que estava saindo de perto dos bombeiros e correu de volta! O caminhão partiu com sua sirene ligada atrás da galinha, mas andou só um pouco e parou pois a galinha já estava voltando. Os bombeiros Raposinha e Urso desceram rápido, pegaram a mangueira de incêndio, apontaram para o rabicó de penas e “CHUAAA!” um jato forte atingiu em cheio a galinha que acabou toda ensopada e ainda precisou de um enorme curativo no bumbum, que ficou bastante dolorido. 

   Nesse instante a multidão que observava tudo se abriu e bem do meio o Rei Galo, irmão da bombeira galinha e líder de todas aquelas terras, apareceu ao lado da Bombeira Raposinha. Os dois estavam com uma expressão muito séria no rosto. A menina lembrou da expressão que seus pais fazem quando ela apronta alguma confusão.

   A bombeira Raposinha, sua chefe, ainda com os pelos arrepiados da emoção e da correria, falou brava:

   - Bombeira Galinha, você está com o bumbum machucado. Não poderá participar da festa dos bombeiros. E por conta da grande confusão que causou, terá que ficar um mês inteiro sem participar das atividades da corporação.

   - Mas foi sem querer. Eu só queria ajudar. - disse a galinha.

   - Eu sei - respondeu a Raposinha, já mais calma - mas sua indisciplina pôs todos em risco.

   A galinha ficou com o bico baixo, triste e envergonhada. Seu irmão, o Rei Galo, era condescendente mas firme e disse com uma voz doce:

   - Bombeira galinha, minha irmã, você foi imprudente e causou um grande acidente.  Desobedeceu, não pediu ajuda e fez algo para o qual não estava treinada. Quase caiu sobre o bolo, coloco outros em risco e ainda se machucou. Você deveria ser um exemplo, pois toda irmã de rei é uma princesa e você é uma princesa especial, pois tem a profissão mais nobre do reino. Por isso, você ficará sem poder ir para as próximas festas, também.

   - Eu sinto muito… mas não foi engraçado? - disse a galinha, baixinho.

   Bastou apenas um olhar ao redor e ver que a festa estava com o chão molhado, balões estourados e ela mesma machucada, para ela entender que com certas coisas não se deve brincar.

   Todo o reino ficou triste pela galinha, mas entendia que ela precisava de tempo para perceber o quão grave fora sua estripulia. Até a menina, que ainda segurava sua boneca firmemente, entendeu que não te deixarem fazer algumas coisas pode parecer chato, mas é uma forma de cuidado, e que, quando fazemos algo errado pode ser importante se afastar por um tempo para se refletir e perceber que as regras e limites existem para proteger.

   A menina deu um beijinho na testa da boneca e disse que se comportasse bem e que de agora em diante as duas iriam fazer o possível para não criar confusão. Ela lembrou que seus pais também falam com calma mesmo quando se irritam e que isso parecia com todo o carinho que a galinha bombeira recebia, pois só queriam vê-la segura. Elas se abraçaram forte, relaxando depois de tanta emoção, se sentindo seguras, confortáveis e protegidas, envoltas num macio lençol, deitadinhas no quarto da menina.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Olá, você que leu essa aventura!
Sua opinião é muito importante e suas sugestões serão bem vindas.